segunda-feira, 14 de julho de 2014

Quereres

Quero beber
O branco do lírio
O leite
Da pétala aveludada.
Sorver o imperceptível
Pólen
Da tua passagem
Sobre o meu vai e vem.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Taça de vinho

"A música embala a morte do dia enquanto eu encho uma taça de vinho. E o escuro da noite se derrama silencioso no oco da taça cristalina. A lua sorri divertida no céu e um hálito misterioso exala do bater de asas dos pássaros em revoada, no encalço dos gatos pardos iluminados pelos últimos lampejos do sol sobre a cidade.
Os homens fumam em silêncio os segredos que as mulheres devassam com a língua cortante que tece tapetes, fecha cortinas, acende luzes e fogões, põe a mesa, banha os filhos, cerzi monstruosa colcha com os retalhos do dia e das falas murchas sobre histórias de homens infames.
A noite é apenas menina e escura enquanto os faróis nervosos cruzam o asfalto, o cruzamento, a boca do túnel, a linha suspensa da ponte sobre o precipício. A noite cruza o pensamento e as pernas longas sobre a hesitação, a frustração. Bate palmas para o improviso do músico à capela jamais outra vez. O instagram registrou, mas o barulho escorregadio da meia de seda nas pernas que se cruzam ele não capturou, eu escrevi mas ninguém tocou.
A noite avança até o limite do passar. Alguém dorme, alguém insone, alguém ninguém no torvelinho tosco da repetição. A taça vazia guarda cristalina fugidios noturnos da madrugada."