quinta-feira, 23 de junho de 2011

Oceano meu

Guardo o oceano dentro de mim e a travessia. Aprendizado de marujo, do que inventa porto em cada encontro e de cada partida um saber se lançar. Navego águas, calmarias, o vento que arrepia o corpo atento. Navego a tensão da ausência de terra à vista e a tentação de me perder nas cartas náuticas manuscritas no meu coração marujo.
Na imensidão do mar que guardo dentro de mim perdi a bussola da razão e aprendi a escutar o canto da sereia que o lobo do mar murmurava em meus ouvidos ingênuos de menina. Eu confundia marulhar com o cantar do vento, e a ventania com o carnaval da tempestade no meu corpo febril. Aprendi que soltava as amarras quando queria e que no mar o desejo é soberano como uma imensa vaga que ameaça o barco da razão à deriva.
Navego dentro de mim o mar que me separa de ti e como parte da natureza selvagem faço as travessias que se impõem como devires na proa corajosa do meu barco.
O amor é um menino em chamas no tombadilho do meu ventre.

domingo, 12 de junho de 2011

[E]namorados

O que me move
te imobiliza.
O que me encharca
te endurece.
A minha teima
te queima.
O pomar é um imã
que (a)trai os frutos (im)puros
da inocência vã.

sábado, 4 de junho de 2011

Contrapelo

A vida corre áspera a contrapelo. Os olhos destilam cansaço e teimosia em não chorar. Tudo é secura no sertão do meu desconsolo. É a solidão na latência do meu não. A sensibilidade inteira guardo na mão fechada, corpo trincado de tanto aguentar o tranco até não suportar mais trancar. A mão não vale um pássaro voando e os pés são raízes grossas fincadas na terra dura da provação. Retirante de mim mesma eu embarco no pau de arara da ilusão.
Eu preciso de um trago e de uma canção, de um filme que enrede os afetos volúveis do meu corpo sem paradeiro, sem fio terra, indestinado como uma pulsão. Eu preciso de ti. Eu não me basto em mim.
Olho indiferente o olho que me vigia. E escuto com ouvidos moucos a voz que aterroriza o momento de distração, o meu descuido. O esquecimento é cansaço e eu luto em vão contra as explicações, o entendimento do senso comum, a culpa moeda de troca no mercado das decepções. Enquanto isso a paranoia me espreita, solapa a noite e se deita ao meu lado no escuro do meu medo. Deponho as armas e acolho o desespero. Que é um sapo entalado na garganta do meu grito calado.
Preciso da força que perdi, da teimosia que desperdicei no exercício da complacência comigo mesma, com o policial infame, nas relações aviltantes corruptas e corrompidas. Ah, o insulto que não proferi! Ah, as palavras que não escrevi! E se eu tivesse gritado, e se eu tivesse me indignado a ponto de me expor indefesa e raivosa diante da fila interminável dos complacentes? E se eu não tivesse sido condescendente, talvez o cansaço não me tivesse abatido e o esquecimento não se instalasse como aquele véu mortiço, anestesia letal da dor.
As passagens estreitas me fazem olhar para o infinito. As passagens estreitas me fazem desviar os olhos do dedo (que me acusa) e contemplar a estrela (que me redime).