sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fagocitose

Os corpos bóiam náufragos e órfãos no tablet liquefeito do açougue. Resta dissecá-los com as iluminuras dos cacos pontiagudos dos cristais.
O instante lampeja como a luz refletida na superfície estriada da natureza morta. Que a traição e a miopia do artista revolvem. Audaz como eu.
O tempo é uma torneira aberta a se esvair fora de mim. Lento, contínuo e indiferente. Sou a paisagem distante que teu olho toca  quando remexe lembranças, entre doces e amargas.
Na água corrente do tempo lavo o travo dos sabores que a vida, passageira, deposita com ardor na minha boca faminta.

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