segunda-feira, 14 de março de 2011

Polaroid

Esbarro na lâmina afiada da vida. Sangra. Mas se passo ao largo da lâmina sangra também. Faço com o meu grito um garrote para estancar o sangue que a vida respinga no alvo móvel do meu desejo.
As palavras fiadas como renda no tear da tua libido são véus que encobrem e desnudam o corpo delito imaginado e capturado na polaroid da minha pele. A imagem fulgura imersa em palavras. São carpideiras a embalsamar com ladainhas o sono da paixão traída.
Cada brilho retocado expõe a sombra que paira no teu coração tão só. A desilusão afia a agulha que perfura cega o olho da noite. Eu te pressinto e sangro. Experimento no calor suave do sangue que escorre a euforia do que passa. Borbulhas de champanhe barato.
Sombras breves e mínimas sangram e transbordam. Mesmo que não queiras. Ainda que sejas tecnicamente perfeito e que procures esconder a entrega, dentro da camisa que não despes jamais.
O filó da renda que o tear enredeia incendeia a imaginação com desejos ariscos e proibidos. Resta guarda-los na polaroid do meu afeto. Em instantâneos que o tempo apaga e a lembrança compra no mercado de pulgas da ilusão.
Você na polaroid é um cartão postal antigo e ingênuo que a indecência revela e as moças virgens temiam tanto quando desejavam.

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